quarta-feira, 26 de abril de 2006

HO HO HO HO HO!!!

Willie: Jesus, kid. When I was your age, I didn't need no fucking gorilla. And I wasn't as big as one of your legs. Four kids beat me up one time and I went crying home to my daddy. You know what he did?

Kid: He made it all better?

Willie: No, he kicked my ass. You know why?

Kid: Because you went to the bathroom on mommy's dishes?

Willie: What the fuck? No!

Kid: He tried to teach you not to cry and be a man?

Willie: No. It's because he was a mean, drunk, son of a bitch. And when he wasn't busy busting my ass, he was putting cigarettes out on my neck. The world ain't fair. You've gotta take what you need when you can get it. You've gotta learn to stand up for yourself. You have to stop being a pussy and kick these kids in the balls or something.

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Diálogo retirado do filme "Bad Santa".
Assim como com várias outras coisas, preciso de doses, no mínimo, esporádicas de humor deturpado - aquele que se permite brincar com alguns tabus. É bom ver esse canal aberto de vez em quando.

quarta-feira, 12 de abril de 2006

Fugindo da costumeira verborragia!

Ces't la vie.

Faceiro e lúdico, era como esta criança serelepe se sentia em relação ao fato de não ter cometido nenhum impropério com seu recém-adquirido ornamento na orelha. "Cuidado na hora de tirar a camisa", advertiu-me uma brilhante companheira de aventuras. "A hora de passar o xampu é a pior", advertiu outro sábio. Sentia-me dono da situação, sem dor e sem acidentes. Eis que surge um

O relato:

Recolhi-me ao meu leito um pouco mais tarde que o de costume. Tomei as precauções necessárias para não encostar o transversal contra o travesseiro. No entanto, essa sazonalidade brasiliense trouxe consigo alguns dos bichinhos mais enervantes do planeta, os pernilongos. Astuciosamente, usei as cobertas para me proteger de suas intrépidas picadas. Contudo, os desgraçados começaram a empreender vôos rasantes por cima da minha desprotegida, e já perfurada, orelha. Eu, na minha tentativa de dormir, ouvia aquele enlouquecedor zum zum perto dos meus ouvidos. Não tive dúvidas. "Pegarei o bostengo na próxima", pensei.

Quando ouvi o barulho novamente, não pensei e agi: dei uma mãozada na minha orelha. Pense numa sessão bem caprichosa de maledicências, palavrões e correlatos que se seguiu. Acho que acordei os vizinhos.

Então, mesmo cauteloso, acabei na frente do espelho, em plena madrugada, fazendo higiene do local e avaliando danos. E o pior? Nem sei se matei a vadia. "Mas é um pernilongo", poderiam pensar. Não importa. Vadia é o melhor xingamento do mundo.

sábado, 25 de março de 2006

estréia com grande convidado, ainda que repetido...

Pois então... venho já atrasado fazer meu "debu" nessa birosca aqui (com todo o respeito, já que dos melhores lugares q eu já fui eram excelentes biroscas). e vou começar copiando a Ju, convidando meu duas vezes xará, o Fernando Pessoa (pra quem não sabe, tb era Fernando Antônio, como eu) pra falar por mim. isso sempre fez um bocado de sentido pra mim... que vcs acham?

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.



então, por enquanto é isso pessoal!

Fernando Antônio Tollendal, o cara que gosta de parênteses e de colocar coisas depois do nome.

quinta-feira, 23 de março de 2006

Um pouco de Fernando Pessoa

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


ANÁLISE

Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.


quinta-feira, 9 de março de 2006

Crianças...

Oito anos

Por que você é Flamengo
E meu pai Botafogo?
O que significa
"Impávido colosso"?

Por que os ossos doem
Enquanto a gente dorme?
Por que os dentes caem?
Por onde os filhos saem?

Por que os dedos murcham
Quando estou no banho?
Por que as ruas enchem
Quando está chovendo?

Quanto é mil trilhões
Vezes infinito?
Quem é Jesus Cristo?
Onde estão meus primos?

Por que o fogo queima?
Por que a lua é branca?
Por que a terra roda?
Por que deitar agora?

Por que as cobras matam?
Por que o vidro embaça?
Por que você se pinta?
Por que o tempo passa?

Por que que a gente espirra?
Por que as unhas crescem?
Por que o sangue corre?
Por que que a gente morre?

Do que é feita a nuvem?
Do que é feita a neve?
Como é que se escreve
Réveillon?

Adriana Calcanhoto

A lógica pura e simples das crianças. Desprovida dos sensos morais limitadores, tão característicos dos seres humanos adultos. Lógica ainda imaculada e inocente. Interessantíssimas essas pequenas criaturinhas...
É o meu segundo post sobre crianças, sobre filhos. Não. Não estou querendo ter filhos... Tão melhor aprender e se divertir com os filhos dos outros!! Quase não consigo conceber a responsabilidade de criar uma nova cabeça. Pais criam mentalidades. A amplitude disso é imensa!
E se algum dia perguntarem se tive filhos, a provável resposta será:

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”

Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas

quarta-feira, 1 de março de 2006

José

E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu,
A noite esfriou,
E agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome,
Que zomba dos outros,
Você que faz versos,
Que ama, protesta?
E agora, José?

Está sem mulher,
Está sem discurso,
Está sem carinho,
Já não pode beber,
Já não pode fumar,
Cuspir já não pode,
A noite esfriou,
O dia não veio,
O bonde não veio,
O riso não veio,
Não veio a utopia
E tudo acabou
E tudo fugiu
E tudo mofou,
E agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
Seu instante de febre,
Sua gula e jejum,
Sua biblioteca,
Sua lavra de ouro,
Seu terno de vidro,
Sua incoerência,
Seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
Não existe porta;
Quer morrer no mar,
Mas o mar secou;
Quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
Se você gemesse,
Se você tocasse
A valsa vienense,
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro, José!

Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato,
Sem teogonia,
Sem parede nua
Para se encostar,
Sem cavalo preto
Que fuja a galope,
Você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade


O poema é auto-explicativo e dispensa comentários da minha parte.
Uma das mais belas poesias da literatura brasileira, sem dúvida. E não me venham com a tal brasilidade, a identidade do povo brasileiro. Esse texto é muito mais que isso.
Para tentar sacudir a poeria desse blog, que está mais parado que o paulo engessado.



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Quando o amor sucumbiu à paixão: ensaio sobre o comportamento monogâmico na contemporaneidade

Conceitos como amor e paixão costumam ser complementares, contudo suas peculiaridades clamam por discernimento. Paixão é factível, perceptível e constatável. A taquicardia, o suor frio, o nervosismo, há um amalgamado de indícios que comprovam a existência de um estado emocionalmente diferenciado. Amor, entretanto, tende a ser um conceito mais amplo, digno de discussões platônicas ante ao banquete. A noção de amor, por mais que seja difundida e até mesmo reproduzida socialmente, encontra sua versão mais frutífera na ponderação individual-filosófica do que é tido como estrutura edificante para uma relação.

Paixão e amor nem sempre se relacionam como seqüências lógicas de uma relação. Um casal apaixonado é diferente de um casal que se ama; contudo, um casal que se ama pode ser um casal apaixonado e um casal apaixonado pode ser um casal que se ama, mas não necessariamente o são; não é certo que um casal apaixonado desperte uma noção maior e menos imediatista de amor, bem como o casal que se ama pode ter experimento larga diminuição em seus ímpetos de paixão.

Por um momento, pode-se dizer que a instituição casamento encontra-se em crise, contudo tal afirmação tem caráter dúbio. O número de casamentos e reservas de espaço para realização de cerimônias e festas ainda é assombroso; questionável é a capacidade que os matrimônios têm de se manterem.

Tomar alguém como parceiro de vida tornou-se algo assustador. Outros caminhos são exteriorizados como opção ao casamento ou na fase anterior a sua inevitabilidade. Em face ao jogo de sentimentos e perspectivas de uma relação duradoura, muitos se lançam em relacionamentos de curto prazo ou abertos, cujo intuito é maximizar os prazeres carnais sem a necessidade de criação de vínculos afetivos mais densos.

A lógica de uma sociedade de consumo acaba se prostrando em diversos níveis de realidade. Aquisição tem sido conceito chavão, que acaba se estendo às ponderações acerca de relacionamentos amorosos. Por que ter o bom se o melhor pode ser encontrado? A procura por pacotes fechados, próximos dos gostos individuais, foi declarada, mesmo que seja uma busca anacrônica. Contudo, ao menos na aparência, os atributos podem ser encontrados de forma ideal. O comprometimento não está em voga, e muitos são os discursos que distanciam os indivíduos de relações formais.

O questionamento a ser feito, no entanto, é se relações que fogem à convencionalidade podem sobreviver em meio a uma sociedade que prega valores monogâmicos. Mais do que isso, até que ponto nossos processos de socialização primários não mexem com o nosso brio em se tratando de uniões afetivas. Parece-me que tentativas de relacionamento aberto acabam se frustrando na gênese de uma paixão, sentimento amplamente carregado de uma vontade de compartilhar privacidade com um parceiro. Será possível que consigamos nos apaixonar por mais de uma pessoa ao mesmo tempo ou o sistema de monogamia seriada continua mais apurado para o nosso modelo de sociedade?

O amor, concebido como estrutura de longevidade e cumplicidade, não consegue mais competir com a inebriante sensação de estar apaixonado? Talvez, nem seja o caso; é possível que, em virtude de tantos desencontros, experimentar seja o estágio probatório de uma relação frutífera. Contudo, há algo de estranho. O casamento mantém sua força, mas não sua durabilidade de uma maneira geral. Será possível que a perspectiva de tentar novamente faz com que não tentemos o suficiente com o parceiro definido? Difícil discernir o ponto da perda, ou seja, até onde devemos insistir ou desistir de uma relação. Apenas, nesse ínterim, sou tomado por uma sensação de que estruturas e densidade emocional vem sucumbindo perante símbolos, pseudo-relações e tipificações do que se pensa ser compatibilidade.

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Outro dos meus textos inacabados. Espero que Richard Dawkins me ajude!

Paulo.



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

A Transformação da Intimidade

"Nos relacionamentos gays, tanto masculinos quanto femininos, pode-se testemunhar a sexualidade completamente desvinculada da reprodução. A sexualidade das mulheres gays forma-se a partir de uma necessidade e está quase totalmente relacionada às implicações observadas no relacionamento puro. Ou seja, a plasticidade da resposta sexual é canalizada, acima de tudo, por um reconhecimento dos gostos dos parceiros e sua opinião sobre o que é ou não agradável e tolerável. O poder diferencial pode ser restabelecido por uma inclinação, por exemplo, para o sexo sadomasoquista. Uma mulher diz:

Eu gosto do sexo bruto, apaixonado, porque ele ultrapassa as barreiras da "pureza" que tantas mulheres controem em torno de si. Não há a sensação de contenção, tão freqüente com o sexo delicado, politicamente correto - "S e L", como uma de minhas amigas o apelidou (ou seja, sweetness and light, suave e leve). Minha aual amante e eu experimentamos algumas vezes sadomasoquismo e sujeição, e achamos muito excitante. Tudo o que temos feito tem sido totalmente consensual, e a "dominada" (que varia) tem sempre controle acompanhado da ilusão de estar fora do controle. Temos incluído coisas como espancamento, açoitamento, puxar os cabelos e mordidas, mas nunca a ponto de ferir ou mesmo de marcar. O que torna isso tão bom é a sensação de completo desprendimento.
Seria possível observar-se aqui o retorno do falo, e de uma forma um tanto odiosa. Até certo ponto isso pode ser correto, mas poderia ser também proposta uma interpretação diferente. Em relacionamentos lésbicos (assim como também entre os homens gays), as atitudes e as peculiaridades "proibidas" no relacionamento puro podem influenciar potencialmente, incluindo o controle intrumental e o exercício do poder formal. Confinado à esfera da sexualidade e transformado em fantasia - em vez de ser determinado pelo exterior, como habitualmente sempre ocorre -, o domínio talvez auxilie a neutralizar a agressão, que de outro modo se faria sentir em outra parte.

Como em outros aspectos, aquilo que poderia parecer uma característica retrógrada dos relacionamento sexuais mulher-com-mulher, realmente, poderia proporcionar um modelo para a atividade heterossexual eticamente defensável. O sadomasoquismo consensual não precisa ser apresentado como uma receita para a experiência sexual compensadora, mas o princípio que ele expressa é suscetível à generalização. A sexualidade plástica poderia tornar-se um
a esfera que não mais contivesse os detritos das compulsões externas e, em vez disso, assumiria o seu lugar como uma dentre outras formas de auto-exploração e construção moral. Talvez aqui possa ser descoberto um siginificado nos escritos de Sade, completamente diferentes daqueles em geral sugeridos. Em Sade, o poder, a dor e a morte investem-se inteiramente de sexo e são exercidos através da perversão. O falo domina tudo e a sexualidade é despojada de qualquer vestígio de ternura - ou assim parece. Mas Sade separa inteiramente a sexualidade feminina da reprodução e festeja a sua fuga crônica a partir da subordinação a interesses fálicos. Sua representação do sexo, que concetra tudo o mais dentro dele, poderia ser vista como um estratagema metafórico irônico, indicando a inocência da própria sexualidade."

Trecho de "A Transformação da Intimidade" do sociólogo Anthony Giddens.

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Respeitar demais tudo que é julgado diferente (ou se afastar) é se abster da tentativa de compreender. Ademais, buscar as bases de um fenômeno não implica sua assimilação! Do contrário, caso não seja nossa fantasia ou interesse privado, apenas reproduziremos comportamentos exteriores.



terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Grunhidos e lamentos às escuras


Oi. Tudo bem? Eu também. Olha, não tenho teoria relevante sobre o nosso planetinha azul para lhes apresentar. Em face disso, escreverei, de agora em diante, sobre mundanismos. A meu ver, blog serve pra isso.

Curto e grosso, vou direto ao ponto do texto: música é uma das minhas obsessões. Meus CDs ocupam uma parte desproporcional do meu quarto. Enche meu peito de alívio saber que posso passar as minhas derradeiras horas do dia acompanhado da minha bela e sortida discoteca. Houve uma época em que a minha maior diversão era fuçar a internet à procura de bandas insólitas. Descobri, assim, coisas boas e horrendas. Hoje, todavia, estou mais seletivo. A verdade é que fico mais intolerante a porcarias à medida que envelheço.

Fiz um pente-fino e criei algumas categorias para os CDs. “Não quero encará-los nunca mais” e “quero escutá-los para sempre” constituem duas delas. Para começo de conversa, enumerarei 3 CDs que não me aborrecem jamais. Escolher só isso em meio a tanta preciosidade foi uma tarefa espinhosa. Não quer dizer que sejam os meus prediletos, mas, sim, os que gritaram mais alto no momento da escolha. Se a idéia pegar, mostro o resto. Vamos lá.

- Unknown Pleasures (1979), Joy Division –


Afastado da colorida Londres e entediado com a paisagem lívida e tirana de Manchester, um grupelho de jovens montou o JD. À época, o punk se mostrava excessivamente rude e insolente. Era a forma pela qual jovens reclamavam do sistema e cuspiam palavras de ordem. Possuído pelo espírito perturbador que vagava pelas ruas da cidade, o JD quis, além de provocar ruído, transformar toda aquela raiva em reflexão. Conseguiram retratar um momento no qual traumas provocados por falta de perspectiva de futuro assolaram irremediavelmente jovens britânicos. Para ilustrar isso musicalmente, JD mesclou sintetizadores magoados com ritmos tribais, paixão ao microfone e letras devastadoras. A capa do CD (acima) mostra o gráfico de uma estrela em decadência. De forma profética, mostra também a trajetória da banda, isso é, uma estrela mui brilhante que implodiu às pressas. Mas que influenciou um sem-número de boas bandas e deixou como rastro flamejante discos irretocáveis.

As músicas são impetuosas e acachapantes. Seguiam o ritmo alucinado e bruto das fábricas. A primeira metade do álbum é áspera. A segunda, melódica e gelada. Faixa mais legal do CD, The Eternal sintetiza bem o tom cinzento e contemplativo do álbum. “Nenhuma palavra poderia explicar, ou ação determinar, o mero assistir das folhas caindo das árvores”, sussurra Curtis, líder do JD.

Gosto muito do álbum porque, num primeiro momento, encontrei na letra das canções um pesaroso repique de identificação. Hoje, tenho na melodia a sensação de um momento único do rock. Quando ouço algo novo e totalmente estúpido, sem nenhuma novidade, volto para a inspiração que ele me traz.

- Astral Weeks, Van Morrison -

Minhas costas doem!

- Moon Pix, Cat Power -

Ah, neeeeeeeem.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

A ameaça zumbi!



10 Motivos pelos quais gosto da cinematografia que abarca a temática dos zumbis (e as possíveis implicações no mundo social):

01. Parte da noção de mundo, sociedade e realidade que se conhece vai pelo ralo;

02. As instituições perdem seu poder (ao menos temporariamente);

03. Pessoas que são um porre homérico viraram zumbis? Quebra a cabeça. Ninguém irá julgá-lo;

04. Eu poderia morar em um hipermercado e, de quebra, realizar meu sonho de infância;

05. Em função da necessidade, poderia dormir em uma casa diferente por dia;

06. Terapeuta de controle de raiva sugeriu bater em saco de areia para aliviar a tensão? Eu digo para mudar o alvo;

07. É uma situação inusitada o suficiente para que as pessoas sejam obrigadas a exteriorizar uma nova maneira de viver em sociedade. Seria uma gênese de reproduções ainda vindouras;

08. A união gerada entre os indivíduos em função de uma eqüidade situacional (e nem é copa do mundo);

09. A coisa acontece da noite para o dia. Não há avisos prévios;

10. Objetos inusitados podem ser usados como armas. Depende da imaginação.

Outras idéias? É só compartilhar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Poema Enjoadinho


Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Vinícius de Moraes

Sim, o adágio proferido por todos os pais em algum dia de suas vidas é na realidade uma parte desse poema. Especulações a parte, fico pensando se será de fato real aquele outro quase-provérbio, sempre ouvido pelos filhos bem mais que alguma vez na vida: "quando você foi mãe/pai irá me entender...". Exatamente, especulações. É bem provável que a maternidade/paternidade mude nossos conceitos e revire nossas vidas...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Reprodução vs. observação: redimensionando a dicotomia.

Pensei em revestir a noção da mensagem que quero passar com as minhas idéias, mas achei mais prudente me restringir ao original:

"No palco, em todos os bons melodramas onde há cenas de sangue, é costume alternar as cenas trágicas e cômicas tão regularmente como as camadas vermelhas e brancas de uma fatia de toicinho. Vergado pelo peso dos grilhões e desventuras, o herói cai sobre sua cama de palha; na cena seguinte, seu fiel escudeiro, sem saber da desgraça de seu amo, regala o auditório com uma canção cômica. Assistimos, ansiosos, ao rapto da heroína por uma barão orgulhoso e cruel; com a virtude e a vida igualmente em perigo, ela saca um punhal para defender esta à custa daquela, e, precisamente quando nossa emoção atinge o ponto mais alto, ouve-se um apito e somos imediatamente transportados ao salão nobre do castelo, onde um senescal de cabelos grisalhos entoa uma canção picaresca em coro com um grupo de vassalos ainda mais picarescos, daqueles que se encontram em toda espécie de lugares, das naves das igrejas aos palácios, e que vagueiam juntos, sempre cantando.

Tais mudanças parecem absurdas, mas não são tão pouco naturais quanto pareceriam à primeira vista. Na vida real, as transições de mesas bem-providas a leitos de morte e de vestes de luto a trajes festivos não são, de modo algum, menos alternadas que as do palco, só que nelas somos atores ativos em vez de observadores passivos, o que é uma grande diferença. Os atores em cena não sentem essas transições violentas e esses impulsos súbitos do sentimento e da paixão, que, apresentados aos olhos dos espectadores, são imediatamente julgados como exagerados e antinaturais."

Charles Dickens em Oliver Twist
[Capítulo XVII - O destino, continuando a ser ingrato para com Oliver, traz a Londres um grande homem para denegrir sua reputação]


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

A época da inocência




Inocente [aurélio]: 1. Inofensivo, inócuo. 2. Sem culpa. 3. Isento de malícia. 4. Singelo, cândido, puro. 5. Simples, ingênuo. 6. Idiota, imbecil. 7. Criança de tenra idade.

Inocente [meio jurídico]: Livre de acusações. Réu inocentado mediante suspeita de cometimento de delito. Seguidor de normas.

Somos realmente inocentes até que se prove o contrário?
E quanto à ignorância? Configura-se como inocência?
Que critérios a transformam em malícia? Códigos?



domingo, 5 de fevereiro de 2006

Socializados como reprodutores!

Boa parte da educação de uma criança , no Brasil, é baseada na idéia de reproduzir. Reproduzir exercícios, pensamentos e contas.

Foda mesmo é lidar com essa situação ao escolher, com 17 anos, qual será o curso superior ou o que se quer fazer posteriormente à graduação!

Respostas? Já estão aí. É só reproduzir. E a sociedade não se cansa de exemplificar.

Não sabe o que fazer da vida? Concurso público. Estamos falando de Brasília, oras. Religião oficial e com cultos quase todo final de semana. É a saída mais prática, confortável e feliz. Afinal, concurso público traz estabilidade, né? Principalmente emocional. E quando a profissão não tem está minimamente ligada com o que se gosta de fazer? Hm. Mais gostosinho ainda!! Chega de se esforçar, o negócio é ser analista de algum órgão público.

Não tem nem o que pensar. O caminho já está trilhado e esperando mais aventureiros. Mas, em algum momento, esqueceram de avisar que a reprodução constante pode gerar uma crise de significados. Especialmente, quando há vazios na mudança de estágios de vida. Bom, acho que os cursinhos estão aí para isso. Conferir parâmetro para quem não tem. Afinal, a manutenção da rotina de aulas é produtividade, não?

Chegamos ao cúmulo de ter a ocupação mais interessante no circo social: estudante de concurso.
Surgiu uma oportunidade, mas o salário é mais ou menos? O que fazer? Ah, melhor recusar. Bom mesmo é estudar para concurso!

Em uma roda de conversa, a resposta mais interessante, que não gera tanta crise de não produtibilidade, é àquela na qual a pessoa se identifica como estudante de concurso. "Tá fazendo o quê", indagam. "Estudando para concurso", retrucam. Brasil, onde estudante de concurso tem status ocupacional. Deviam pleitear seguro de saúde!

E o mundo volta a ficar nos seus eixos!!